A classe D/E, mais pobre e numerosa que a soma das demais (A, B e C) em domicílios no Brasil, deve seguir inchando em 2022 e perdendo renda, assim como neste ano.
Isso deve ocorrer mesmo que um novo Auxílio Brasil de R$ 300, em média, seja pago no ano eleitoral de 2022, como deseja o governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Hoje, o presidente está longe de ser o favorito no pleito, sobretudo pelo aumento da pobreza e da inflação entre os eleitores pobres, alvos do Auxílio Brasil —que deve substituir o Bolsa Família, identificado com o PT e Lula, favorito na pesquisa Datafolha de intenção de voto.
Segundo cálculos da Tendências Consultoria Integrada, a classe D/E, equivalente a quase 55% do país, aumentará em 1,2 milhão de domicílios neste ano; e perderá 14% de sua massa de renda —soma da renda habitual do trabalho calculada pelo IBGE, transferências do Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada, Previdência e outras fontes.
A classe C, segunda mais numerosa (29%), encolherá em 514 mil domicílios e perderá 2% de sua massa de renda. Nas classes A e B, haverá pequeno incremento no total de domicílios (cerca de 2%); e a massa de renda aumentará 2,6%.
Na média do país, a massa de renda total domiciliar deve cair 3,1% neste ano, após alta de 4,9% em 2020.
Não existe no Brasil um critério oficial para a definição de classe social, e as projeções da Tendências levam em consideração níveis de renda domiciliar mensal, que vão de menos de R$ 2,8 mil na classe D/E a mais de R$ 20,8 mil na classe A.
Diante da incerteza sobre a data de início do Auxílio Brasil, os cálculos da Tendências para 2021 incluem o pagamento de duas parcelas adicionais do auxílio emergencial, em novembro e dezembro.
Para 2022, as projeções levam em conta o Auxílio Brasil já em operação, com benefício médio de R$ 300 (ante os cerca de R$ 190 do Bolsa Família) e a incorporação de mais 2,5 milhões de famílias no programa, que passariam a 17 milhões.
Mesmo assim, tanto o aumento de famílias na classe D/E quanto sua massa de renda sofreriam nova deterioração no ano eleitoral de 2022. Segundo essas projeções, mais 620 mil domicílios ingressariam na classe mais baixa do país no ano que vem; e a evolução da massa de renda ficaria outra vez em terreno negativo, com queda de 0,8%.
Nas classe A, B e C, menos numerosas, haveria expansão modesta no total de domicílios; e a massa de renda teria incrementos superiores a 5,7%.
Segundo o economista Lucas Assis, da Tendências, o principal fator para a ampliação do número de domicílios na classe D/E neste ano e em 2022 deve ser a desocupação mais elevada, sobretudo dos menos escolarizados.
“Apesar da expectativa de aumento da ocupação, as condições do mercado de trabalho seguem deterioradas. A projeção positiva camufla a heterogeneidade econômica brasileira, marcada pela distribuição desigual das ocupações e rendimentos entre os trabalhadores.”
A Tendências projeta ainda que a mobilidade social no Brasil seguirá bastante reduzida nos próximos anos, acompanhando um fenômeno típico de países com alta desigualdade de renda.
"O maior entrave ao crescimento da renda dos estratos sociais mais pobres é a educação não revertida em produtividade. O alto nível de desemprego, a falta de ganho real no salário mínimo, o elevado grau de informalidade e a subutilização dos trabalhadores devem impedir ganhos elevados de renda na classe D/E”, diz a consultoria.
A criação de empregos informais tem sido a principal marca da medíocre recuperação econômica desde 2017. De um total de 89 milhões de ocupados, 36,3 milhões são informais, segundo o IBGE. Quanto mais pobre o trabalhador, maior sua prevalência na informalidade.
Com a informalidade e o desemprego elevados, aumentou o número de pobres; e o Brasil tem hoje mais pessoas na miséria do que em 2011 e em relação a antes da pandemia.
Após longo período de queda sustentada, a taxa de miseráveis voltou a subir e eles são hoje 27,4 milhões (13% da população; equivalente a quase uma Venezuela) vivendo com menos de R$ 261 ao mês, ou R$ 8,70 ao dia, segundo critérios da FGV Social.
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