Bilionária americana doa mais de US$ 17 milhões para 16 ONGs brasileiras; veja quais

Mackenzie Scott, ex de Jeff Bezos da Amazon, fez seleção virtual para identificar lideranças e destina doações expressivas para causas sociais no país

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São Paulo

A bilionária norte-americana Mackenzie Scott, que ajudou Jeff Bezos a fundar a Amazon, anunciou a doação de US$ 3,8 bilhões (R$ 18,4 bilhões, em reais) a 465 ONGs. Na lista da filantropa estão 16 organizações brasileiras que têm em comum lideranças reconhecidas que resolvem problemas sociais de maneira sistêmica.

É o caso de Eliana Sousa (Redes da Maré), Vera Cordeiro (Instituto Dara, antigo Saúde Criança), Edu Lyra (Gerando Falcões) e Caetano Scannavino (Saúde & Alegria), empreendedores sociais que há anos desenvolvem soluções perenes para pessoas e territórios em extrema pobreza no país.

mulher branca de cabelos longos sorri
Mackenzie Scott, que ajudou Jeff Bezos a fundar a Amazon, promete doar em vida metade de sua fortuna para caridade - Jorg Carstensen/AFP

"A liderança de pessoas que vivenciam diretamente as desigualdades é essencial, tanto porque é baseada em vivências únicas quanto porque semeia oportunidades dentro da própria comunidade", diz Mackenzie Scott em texto publicado na plataforma Medium.

A lista, divulgada no dia 23 de março pela própria doadora, inclui Brazil Foundation (US$ 5,5 milhões), Conectas Direitos Humanos, Fundação Lemann, Fundo Baobá, Fundo Brasil de Direitos Humanos, Fundo Casa Socioambiental, Fundo Elas (US$ 3,5 milhões), Gerando Falcões (US$ 5,5 milhões), Instituto Dara (US$ 1 milhão), Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Sou da Paz (US$ 1,2 milhão), Nossas, Politize, Projeto Saúde & Alegria, Redes da Maré e Vetor Brasil (US$ 750 mil).

Algumas organizações preferiram não se pronunciar sobre os valores, uma vez que ainda estão em trâmite de doação.

"Fomos entrevistados durante quatro meses e não tínhamos noção de quem era a pessoa, mas sabíamos que era um filantropo", diz Vera Cordeiro.

"Estavam realmente interessados em saber as transformações que estávamos produzindo. Foram perguntas diferentes, não teve relação de poder, me senti respeitada", conta Eliana Sousa sobre as reuniões virtuais com a consultoria Bridgespan, que fez a análise de impacto social das ONGs.

Entre as 465 contempladas em todo o planeta, 60% são lideradas por mulheres e 75% por líderes que têm vivência no território ou na causa.

Para Patricia Lobaccaro, ex-presidente da Brazil Foundation e membro de diversos movimentos de filantropia, o que Scott faz é revolucionário. "Ela se comprometeu a doar metade da sua fortuna e está fazendo isso em uma velocidade sem precedentes."

Aos 51 anos, Mackenzie Scott tem riqueza avaliada em mais de US$ 55 bilhões. Ela é uma das signatárias do "Giving Pledge", pacto liderado por Bill e Melinda Gates e Warren Buffett para encorajar as pessoas mais ricas do mundo a doarem sua fortuna em vida. No Brasil, Ellie Horn (Cyrela) e David Velez (Nubank) aderiram ao movimento.

Outro aspecto que torna Scott disruptiva é fazer filantropia com base na confiança, conceito que começa a ser disseminado na cultura de doação.

"Existe flexibilidade no uso do dinheiro", explica Lobaccaro, que fundou a Mobilize, consultoria especializada em filantropia estratégica. "O financiamento de projetos no Brasil é amarrado porque os doadores não gostam de financiar custos indiretos como estrutura administrativa, equipe, comunicação. Todo financiador quer transparência e auditoria, mas quem quer pagar por isso?"

"A doação foi feita com total liberdade", diz Edu Lyra, que receberá R$ 26 milhões e deve investir no Projeto Favela 3D. "Pelo menos R$ 5 milhões serão usados em um projeto-piloto na Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos (SP), que abriga mil moradores."

Os quase R$ 5 milhões que irão para o Instituto Dara, que cria planos de ação familiar para empoderar milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade no Rio de Janeiro, garantem um ano de atividades. Uma conquista imensa em momento de queda nas doações neste pós-pandemia.

"É um símbolo de que é necessário investir em organizações que já comprovaram sua eficácia no Brasil e no mundo", diz Vera Cordeiro. "Tenho vontade de escrever uma carta pra ela."

A doação para fundos brasileiros foi outro destaque na curadoria de Mackenzie Scott. "São fundações financiadoras que vão distribuir recursos em temáticas importantes, fazendo chegar dinheiro a projetos menores espalhados pelo país", afirma Patricia Lobaccaro.

Na região Norte do país, a única ONG selecionada foi o Projeto Saúde & Alegria. "Vamos focar na continuidade e expansão do programa de saúde básico e nos programas que valorizam saberes locais e geram renda com a floresta em pé", explica Caetano Scannavino.

Ele enxerga um movimento crescente, mas ainda lento, de bilionários brasileiros contribuindo para causas. "Que essa iniciativa inspire outros doadores. Há pessoas com dinheiro para as próximas gerações e há pessoas que vivem na miséria há muitas gerações", diz.

"Não temos uma Mackenzie Scott no Brasil, mas temos filantropos generosos olhando para a flexibilização do campo", aposta Lobaccaro. "Ela subiu a régua da filantropia."

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