• Vanessa Henriques
Atualizado em
Sofia Michelakis, diretora da Fundação Bill e Melinda Gates (Foto: Divulgação)

Sofia Michelakis, diretora da Fundação Bill e Melinda Gates (Foto: Divulgação)

A pandemia do novo coronavírus pode ter afetado toda a humanidade, mas seu impacto não acomete toda a população da mesma forma. Os mais vulneráveis continuam a sofrer mais, num retrato visível da desigualdade social. E o que os privilegiados farão pode impactar a sociedade como um todo.

Para Sofia Michelakis, diretora da Fundação Bill e Melinda Gates, é preciso agir hoje e assumir publicamente um compromisso com a filantropia — especialmente aqueles que possuem muito dinheiro. Ela esteve presente no 3º Seminário Doar, evento voltado para o terceiro setor, filantropos e empreendedores sociais, organizado pelo Instituto MOL e Movimento Bem Maior, para falar sobre como a doação dos privilegiados é, potencialmente, um grande legado para as próximas gerações. O evento tem Época NEGÓCIOS como parceira de mídia.

Sofia é responsável pelo The Giving Pledge, compromisso público feito por bilionários que aceitam doar em vida boa parte dos suas fortunas. Na lista, que conta com 211 endinheirados de 24 países, figuram personalidades como o investidor Warren Buffett, o cineasta George Lucas e Elon Musk, CEO da SpaceX. O empresário sírio radicado no Brasil Elie Horn, ex-presidente do grupo Cyrela, é o único brasileiro que integra a iniciativa atualmente.

Ela identifica um caminho com três etapas que os filantropos poderiam cursar diante essa crise. A primeira medida seria investir no alívio imediato das consequências da pandemia. “A filantropia pode agir nos espaços em que o poder público não chega, centralizar e coordenar doações e mobilizar a entrega de insumos mais urgentes”, afirma.

Investir em reconstrução seria um segundo passo, identificando as necessidades das ONGs e buscando formas de arrecadação que garantam seu pleno funcionamento. É também o momento de advogar pela alocação equilibrada de recursos, como é o caso da vacina para a Covid-19. “É preciso trabalhar para garantir um acesso igualitário ao tratamento, e não apenas para os países ricos”, diz.

Por fim, ela enfatiza a necessidade de pensar além do nível pré-pandemia e trabalhar pela aquisição de resiliência em sistemas e organizações — inclusive pensando no caso de uma nova crise desta magnitude. “Eu desafio os filantropos a pensar sobre o que o retorno ao normal significa. A lembrar do mundo pré-covid, olhar para os sistemas ‘normais’ e pensar a quem servem e a quem não servem, e o que fazer para que eles melhorem”, afirma.

Sofia defende que a filantropia olhe simultaneamente para essas três vertentes e trace uma estratégia de ação. “Não são só os recursos financeiros que importam. Você pode doar também seu talento, suas redes de contato. Escolha uma causa que você considera importante e comece a se envolver, busque instituições sérias que trabalham com ela e se aproxime”.

Para quem está do outro lado da mesa, pedindo recursos, ela recomenda enfatizar para o potencial doador qual é o problema e qual a solução encontrada por sua organização, o impacto de suas ações e a apresentação de histórias de beneficiários. “A maior parte das pessoas se motiva com o que elas vêem, com uma causa pela qual se sentem responsáveis ou quando é possível notar o impacto causado pelo trabalho”, diz.

Sobre a nova geração de jovens filantropos, que tem assumido e questionado os investimentos de famílias ricas, ela vê com otimismo o senso de urgência e o olhar para novas causas. “Eles não querem colocar band-aids nos problemas, querem chegar ao seu cerne e resolvê-los”, afirma.

Sofia acredita que essa postura de jovens lideranças não se restringe ao debate da filantropia. “Temos o exemplo da Malala Yousafzai, da Greta Thunberg, que são adolescentes usando sua voz e motivando os outros a se envolver, é muito inspirador”, completa.

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